Panorama cinematográfico do primeiro semestre
Com o ano de 2025 ultrapassando sua metade, já é possível destacar as produções que marcaram o cinema até agora. De dramas emocionantes a histórias de horror visceral, o período foi generoso com os amantes da sétima arte. Entre as obras mais comentadas estão thrillers de espionagem, produções independentes intensas e até vampiros apaixonados por blues. Para esta seleção, foram consideradas apenas as produções lançadas nos cinemas europeus ou online a partir de janeiro de 2025 — mesmo que alguns títulos tenham estreado anteriormente nos Estados Unidos.
Vale lembrar que títulos como On Becoming A Guinea Fowl, Kneecap e Grand Tour não aparecem na lista atual, pois já foram destacados no ranking de 2024, com estreia anterior na Europa continental.
A seguir, os destaques imperdíveis para quem ainda não atualizou a lista de filmes vistos este ano.
“Sorda (Surda)” — drama comovente sobre maternidade e identidade
A cineasta espanhola Eva Libertad entrega em Sorda (Surda) um filme delicado, potente e profundamente emocional. É sua segunda produção de longa-metragem e acompanha um casal interabilista formado por Ángela (Miriam Garlo), uma mulher surda, e seu parceiro ouvinte Héctor (Álvaro Cervantes). À espera de um bebê, os dois vivem a angústia de não saber se a criança nascerá surda ou ouvinte — uma incerteza que impacta não apenas a dinâmica entre eles, mas também a forma como percebem o mundo e seus papéis como futuros pais.
Mais do que uma reflexão sobre a maternidade, o filme é um retrato sensível sobre amor, empatia e pertencimento. Com um elenco carismático e uma narrativa intimista, Sorda envolve o público desde o início, fazendo com que cada dilema vivido pelo casal seja sentido de maneira intensa. Eva Libertad transforma um tema complexo em uma obra acessível, rica em emoção e autenticidade.
“Nickel Boys” — retrato doloroso de injustiça racial nos EUA
Inspirado nas histórias reais da escola correcional Dozier School for Boys, Nickel Boys apresenta um olhar cru e impactante sobre o racismo institucionalizado na América dos anos 1960. Dirigido por RaMell Ross, o filme acompanha dois adolescentes afro-americanos, Elwood (Ethan Herisse) e Turner (Brandon Wilson), enviados a uma instituição brutal na Flórida durante a era Jim Crow.
A escolha de filmar grande parte da narrativa em primeira pessoa, com a direção de fotografia de Jomo Fray, cria uma experiência visceral que insere o espectador diretamente nas dores e angústias dos protagonistas. O resultado é um drama comovente, que fala de sobrevivência, amizade e resistência diante da violência sistêmica. Uma obra que não busca aliviar a realidade, mas sim escancarar as cicatrizes deixadas por ela.
“Sinners” — vampiros, blues e crítica social no sul dos EUA
Misturando elementos sobrenaturais com fortes críticas culturais, Sinners, de Ryan Coogler, é uma explosão de estilo, sangue e música. Ambientado no Mississippi da era Jim Crow, o filme segue os irmãos Smoke e Stack (interpretados por Michael B. Jordan), que retornam à terra natal após se envolverem com o crime organizado e decidem abrir um bar musical em um terreno marcado por um passado racista.
A estreia do talentoso músico Sammie (Miles Caton) desperta forças sombrias do passado: vampiros brancos liderados pelo enigmático Remmick (Jack O’Connell). A narrativa se desenrola como uma canção blues: lenta e cheia de tensão, até explodir em uma catarse de confrontos físicos e ideológicos. Além do entretenimento, o longa propõe reflexões sobre apropriação cultural e memória histórica.
Bilheteria de Hollywood no primeiro semestre: sucesso esperado e surpresa inesperada
Nos primeiros seis meses de 2025, o cenário global das bilheteiras mostrou um equilíbrio entre previsibilidade e surpresas. Na Índia, por exemplo, as estreias de Hollywood revelaram tanto o impacto contínuo de franquias quanto o sucesso de revivals inesperados. Missão Impossível – O Acerto Final liderou com folga, enquanto Premonição: Linhagens de Sangue superou as expectativas.
O novo capítulo da franquia estrelada por Tom Cruise arrecadou R$ 110,21 milhões no mercado indiano. Embora o valor seja 8,5% inferior ao de seu antecessor (Missão Impossível – Acerto de Contas: Parte Um, que fez R$ 120,42 milhões em 2023), o desempenho continua sólido. O filme foi divulgado como a despedida de Cruise da série e trouxe cenas de ação ainda mais elaboradas. Apesar disso, sinais de cansaço do público começaram a aparecer, possivelmente devido à longa espera entre as partes e à saturação do gênero de ação.
Em contrapartida, o retorno da franquia Premonição surpreendeu ao faturar R$ 62,12 milhões na Índia. Após mais de uma década sem novos filmes, Linhagens de Sangue conseguiu atrair um público curioso, impulsionado pela nostalgia e pelo boca a boca positivo. A trama renovada e o terror estilizado contribuíram para o sucesso inesperado da produção.